Por Rildo Silva – presidente do SINAEES – AM e membro da Comissão CIEAM – Centro da Indústria do Estado do Amazonas de ESG.
“Mais do que um símbolo de resistência, o polo industrial quer se tornar um laboratório de inovação verde, unindo esforços locais e globais para proteger a Amazônia e impulsionar um futuro mais justo e equilibrado. Este é o desafio da Comissão ESG do CIEAM. O verdadeiro acordo climático começa aqui, com ações concretas e um compromisso renovado com a floresta em pé.”
A COP 30, programada para ocorrer no coração da Amazônia em 2025, representa uma oportunidade histórica para alinhar os interesses globais com a realidade local. No entanto, a lacuna entre as promessas e as ações no financiamento climático, evidenciada pela dívida de mais de US$ 1,3 trilhão acumulada pelos países ricos, no balanço da COP 29 no Azerbaijão, sublinha o desequilíbrio que condena as nações mais vulneráveis a arcar com os custos de uma crise que não provocaram.
Nesse contexto, o Polo Industrial de Manaus (PIM) se permite apresentar a própria experiência e sugerir alguns movimentos de resiliência e inovação, demonstrando que é possível avançar em agendas ESG e na descarbonização, mesmo em cenários de disparidades globais.
O papel do PIM na Agenda ESG
O PIM tem consolidado uma trajetória baseada nos pilares da sustentabilidade, buscando harmonizar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. Empresas instaladas no polo têm investido em processos produtivos que minimizam impactos ambientais, estão promovendo ações como a adoção de tecnologias limpas e processos industriais que reduzem emissões de CO₂. Empresas do PIM já demonstram iniciativas concretas, como o uso de energia renovável, tratamento de resíduos sólidos e a integração de sistemas circulares de produção.
A implementação de sistemas de monitoramento e relatórios ESG, vão permitindo maior transparência e mensuração de impactos ambientais. Essa prática reforça o compromisso do PIM com a sustentabilidade e evidencia como o setor industrial pode liderar a transformação econômica. Estamos avançando nas parcerias e preparando mais um Fórum ESG.
Além das práticas locais, o PIM tem dialogado com cadeias produtivas globais para impulsionar projetos que vinculam a bioeconomia amazônica aos mercados internacionais, destacando o valor estratégico da floresta em pé. Iniciativas de rematamento, a versão ZFM de reflorestamento, pilotada pela BEMOL, sob a liderança de Denis Minev é outra boa notícia e sugestão já encampada pelo BNDES, BID e Banco Mundial.
COP 30 – ensaios e oportunidades
A realização da COP 30 na Amazônia traz a possibilidade de colocar o PIM no centro das discussões climáticas globais, reposicionando-o como um protagonista na construção de soluções para os desafios ambientais e sociais. Algumas recomendações estratégicas incluem a demonstração de liderança climática expressa nas iniciativas de descarbonização como exemplo paradigmático para outros polos industriais. Relatórios detalhados sobre as reduções de emissões e o uso de tecnologias limpas devem ser brevemente disponibilizados.
Ações da Suframa e entidades representativas da indústria ensaiam utilizar o espaço da COP 30 para expor alternativas para investimentos estrangeiros interessados em projetos sustentáveis na região, com foco na diversificação e adensamento fabril através da bioeconomia, no desenvolvimento de cadeias de valor florestais e na geração de empregos verdes.
Caberia, nesse cenário, a criação de um Fundo Amazônico Verde, inspirado nas operações de reflorestamento, onde o PIM pode avançar a proposta de um fundo destinado à conservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável, financiado por abates de dívidas de países ricos em troca de investimentos em projetos sustentáveis na Amazônia.
Nestes dias, no âmbito do INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, ocorre o lançamento do AMiT, Instituto de Tecnologia da Amazônia em parceria com o MIT, de Boston. É um caminho alternativo desenvolver programas em parceria com instituições internacionais para capacitar mão de obra local em práticas ESG e tecnologias sustentáveis, ampliando a competitividade do polo no cenário global.
Adicionalmente, é preciso assegurar mecanismos que facilitem o acesso a crédito verde e financiamentos a juros reduzidos, fortalecendo a capacidade das empresas locais de implementar projetos de alto impacto ambiental positivo.
Como pressionar o desacordo climático?
A discrepância entre as promessas financeiras dos países ricos e a realidade do financiamento climático revela um verdadeiro desacordo global. Enquanto nações como o Paquistão sofrem com catástrofes naturais agravadas pelas mudanças climáticas, os mecanismos de apoio permanecem insuficientes e burocráticos. É essencial que fóruns como a COP 30 pressionem por mudanças estruturais, incluindo:
- Aumentar a proporção de recursos que chegam aos países em desenvolvimento sem contrapartidas onerosas, garantindo acesso equitativo a fundos climáticos. Uma campanha midiática caberia esclarecer quem é quem na emergência climática: quem polui, quem padece e quem paga a conta.
- Neste contexto, qual seria o papel do Setor Privado, senão estabelecer regulamentações claras para que o financiamento privado não dependa exclusivamente de altas taxas de retorno, mas seja orientado por critérios de impacto socioambiental. E o melhor caminho é a reestruturação de dívidas climáticas:Implementar swaps climáticos em larga escala, garantindo que recursos sejam usados diretamente na mitigação e adaptação climática em regiões como a Amazônia.
Saídas precisam incluir a Amazônia
A COP 30 é uma oportunidade para redefinir os rumos da sustentabilidade global, posicionando o PIM como um modelo de desenvolvimento sustentável que dialoga com os desafios do século XXI. Mais do que um símbolo de resistência, o polo industrial quer se tornar um laboratório de inovação verde, unindo esforços locais e globais para proteger a Amazônia e impulsionar um futuro mais justo e equilibrado.
Fonte: Brasil Amazônia Agora