Por Rildo Silva – presidente do SINAEES – AM e membro da Comissão CIEAM – Centro da Indústria do Estado do Amazonas de ESG.

“O Polo Industrial de Manaus tem, portanto, a chance de ser mais do que um polo fabril. Pode se tornar um laboratório mundial de desenvolvimento sustentável, um símbolo de que é possível conciliar produção, preservação e prosperidade”

 

Um relatório recente elaborado por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, chama a atenção do mundo para um diagnóstico contundente: sem avanços concretos em produtividade e sustentabilidade, a Europa corre o risco de perder relevância econômica e social. Esse alerta, vindo do coração da governança global, precisa ecoar com força também aqui no Brasil. Se queremos propor um modelo com impacto global — especialmente a partir da Amazônia — precisamos correr contra o relógio. E isso vai muito além da tarefa inadiável de neutralizar as emissões de carbono: exige um compromisso com a transformação estrutural da economia, da indústria e da cultura empresarial.

O Polo Industrial de Manaus (PIM) tem se colocado como um dos protagonistas nacionais do movimento ESG (Ambiental, Social e de Governança). Essa postura é mais do que desejável: é estratégica. Localizado em uma das regiões mais vitais para o equilíbrio climático do planeta, o PIM carrega consigo uma responsabilidade proporcional à sua importância. Mas essa ambição de se tornar referência global em sustentabilidade esbarra em desafios que ainda precisam ser superados com lucidez, planejamento e ação coletiva.

Entre esses desafios, destaca-se de forma crítica a limitação da infraestrutura da região. Ainda enfrentamos gargalos sérios na gestão de resíduos, no acesso a sistemas eficientes de saneamento e, sobretudo, na transição energética. É um paradoxo que precisa ser enfrentado: enquanto nossas hidrelétricas abastecem cerca de 40% da demanda nacional de energia, mais de um milhão de pessoas na Amazônia continuam submetidas à instabilidade de sistemas movidos por combustíveis fósseis, com usinas termelétricas caras e poluentes. 

Felizmente, soluções já começam a surgir. Empresas como a UCB Power desenvolvem tecnologias capazes de captar energia solar e armazená-la com eficiência para uso noturno, por meio de baterias de última geração. Essa é uma mostra concreta de que é possível avançar com inovação e sustentabilidade na mesma direção.

Outro ponto nevrálgico é a mudança cultural dentro das empresas. A incorporação das práticas ESG exige mais do que boa vontade: demanda engajamento em todos os níveis organizacionais, capacitação contínua, liderança comprometida e uma nova mentalidade corporativa. Além disso, a complexidade regulatória ainda impõe obstáculos. Navegar pelo emaranhado de normas ambientais, fiscais e trabalhistas pode ser um desafio especialmente difícil para pequenas e médias empresas, que também enfrentam altos custos iniciais para aderir a padrões mais sustentáveis.

Para que o PIM avance com consistência e competitividade nesse campo, algumas medidas são indispensáveis. É fundamental investir em infraestrutura sustentável — desde energia limpa até sistemas eficientes de reaproveitamento de recursos. Também é urgente qualificar pessoas, formando lideranças empresariais e trabalhadores preparados para os novos paradigmas da economia verde. A simplificação regulatória deve andar junto com incentivos fiscais e financeiros que tornem viável a transição ESG, especialmente para os pequenos. Parcerias público-privadas e acordos com instituições internacionais podem acelerar esse processo, assim como o estímulo à inovação tecnológica, que precisa ser colocada no centro da estratégia industrial.

Mas talvez o passo mais importante seja o engajamento direto das comunidades locais. Nenhum modelo de sustentabilidade será legítimo se não incluir quem vive na região. A Amazônia não pode ser apenas cenário: deve ser protagonista.

O Polo Industrial de Manaus tem, portanto, a chance de ser mais do que um polo fabril. Pode se tornar um laboratório mundial de desenvolvimento sustentável, um símbolo de que é possível conciliar produção, preservação e prosperidade. Para isso, é preciso agir com urgência e com visão de futuro. Temos o potencial. Agora, é hora de transformar esse potencial em liderança concreta.

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