Por Rildo Silva – presidente do SINAEES – AM e membro da Comissão CIEAM – Centro da Indústria do Estado do Amazonas de ESG.

“Se há um futuro possível para o ESG, ele passa pela Amazônia. E se há uma lição a ser aprendida, ela vem do exemplo silencioso do ESG no Polo Industrial de Manaus, que, mesmo longe dos holofotes, insiste em provar que o desenvolvimento sustentável não é utopia: é trabalho, é tecnologia, é compromisso”

O mundo vive uma contradição. Ao mesmo tempo em que cresce a consciência global sobre a urgência climática, a própria linguagem do desenvolvimento sustentável vem sendo contestada. A sigla ESG — nascida para orientar investimentos responsáveis — foi capturada por polarizações e, em alguns países, virou alvo de leis que buscam restringir sua aplicação. Esse “backlash”, como define a imprensa internacional, expõe um paradoxo: a sustentabilidade virou campo de disputa política, quando deveria ser território de convergência.

Mas talvez essa reação negativa seja, também, um ponto de inflexão. O ESG precisa ser resgatado da superfície das campanhas e devolvido à sua essência: uma agenda de produtividade ética, socialmente justa e ambientalmente regenerativa. E é justamente nesse ponto que a Amazônia — e em especial o Polo Industrial de Manaus (PIM) — pode oferecer ao mundo um novo sentido para o termo.

A força de um modelo que gera riqueza sem destruir

Enquanto setores globais tentam reinventar o ESG, o Polo Industrial de Manaus já pratica, há décadas, a essência desse conceito: produção com responsabilidade social e ambiental, amparada por incentivos legais e fiscalização permanente. O modelo da Zona Franca não é apenas um arranjo tributário — é um pacto entre Estado, empresa e sociedade que permite gerar emprego, renda e inovação mantendo a floresta em pé.

Os números falam por si: mais de 100 mil empregos diretos, centenas de projetos de P&D e cerca de 30% do PIB da Região Norte. Cada real incentivado no Polo retorna em múltiplos à sociedade na forma de tributos, pesquisa tecnológica e desenvolvimento local. Essa lógica, ainda que muitas vezes incompreendida fora da Amazônia, é o verdadeiro DNA de um ESG produtivo — aquele que cria valor, respeita pessoas e preserva o planeta.

O desafio de reconstruir a confiança

A crise global do ESG, como aponta o relatório do Principles for Responsible Investment (PRI) , reflete a perda de confiança em narrativas desconectadas da realidade. Para a indústria de Manaus, que vive no epicentro da transição entre a economia industrial e a bioeconomia, essa confiança nunca foi teórica: ela é construída todos os dias, no chão de fábrica, no cumprimento das normas e no respeito à lei.

Por isso, quando o mundo fala em “reconstruir reputação”, o Polo Industrial já tem o que mostrar: comprometimento real com a governança, responsabilidade social e desempenho ambiental mensurável. O desafio agora é comunicar essa verdade com mais força e visibilidade, tanto nacional quanto internacionalmente.

ESG como pacto regional

A agenda ESG, reinterpretada a partir da Amazônia, não é uma imposição de mercado, mas um projeto civilizatório. Exige parcerias entre sindicatos, empresas, universidades e comunidades; requer transparência, inovação e ética pública; e se sustenta na noção de que desenvolver é cuidar.

O SINAEES-AM tem defendido que essa nova etapa do Polo seja também uma plataforma de coesão social e territorial — em que cada trabalhador, cada inovação e cada produto exportado carregue consigo a marca de uma Amazônia viva, inteligente e protagonista.

Um novo tempo de protagonismo

A COP 30, que está acontecendo em Belém, será mais do que um encontro diplomático: será o palco para reposicionar o Brasil como força moral e produtiva na agenda climática. O Polo Industrial de Manaus tem papel central nesse movimento, como laboratório daquilo que o mundo busca — industrializar sem devastar, gerar sem excluir, competir sem destruir.

Se há um futuro possível para o ESG, ele passa pela Amazônia. E se há uma lição a ser aprendida, ela vem do exemplo silencioso de um Polo que, mesmo longe dos holofotes, insiste em provar que o desenvolvimento sustentável não é utopia: é trabalho, é tecnologia, é compromisso.

Fonte: BrasilAmazoniaAgora

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