Por Rildo Silva – presidente do SINAEES – AM e membro da Comissão CIEAM – Centro da Indústria do Estado do Amazonas de ESG.
“A escolha está em curso. E cada prioridade anunciada, cada parceria firmada e cada decisão energética tomada nos próximos sete meses para a COP 30 será determinante para o tipo de legado que a conferência deixará para a Amazônia — e para o planeta”
A sete meses da COP 30, que será realizada em Belém do Pará — a antiga capital da Amazônia, berço da história urbana da floresta e ponto de conexão com o mundo —, o Brasil se encontra diante de um dilema estratégico que definirá não apenas a imagem que pretende projetar, mas, sobretudo, o tipo de liderança que deseja exercer na governança climática global.
O cenário não poderia ser mais desafiador — nem mais promissor. De um lado, o país atraiu US$ 37 bilhões em investimentos voltados à transição energética apenas em 2023, conforme destacou recente levantamento da BloombergNEF. Do outro, a tentação de explorar novas reservas de petróleo, como as da Margem Equatorial, ameaça comprometer a coerência entre o discurso de vanguarda climática e a prática de uma economia ainda fortemente ancorada em combustíveis fósseis.
A COP 30 será a vitrine da Amazônia como solução, ou o espelho de suas contradições. Tudo dependerá das prioridades que o Brasil estabelecer até lá, dos parceiros com os quais decidir se associar — sejam eles comprometidos com uma economia regenerativa ou ainda presos à lógica extrativista — e da coragem política de dizer não ao que é fácil, mas insustentável.
Uma agenda de convergência: economia, clima e desenvolvimento
As reflexões desenvolvemos durante o II Fórum ESG Amazônia, e na sequência, sobre a transição energética no Brasil, reforça a tese de que o país dispõe de um referencial competitivo singular, capaz de alinhar segurança energética, soberania nacional e protagonismo ambiental. Esse diferencial se assenta em três pilares:
A vocação natural do Brasil para as energias renováveis, que deve ser fortalecida com investimentos em solar, eólica, biomassa, hidrogênio verde e tecnologias limpas.
O compromisso com a floresta em pé, especialmente na Amazônia, como ativo econômico e geopolítico de primeira ordem.
A Zona Franca de Manaus como plataforma industrial verde, que pode ser requalificada como modelo de desenvolvimento de baixa emissão, ancorado em ciência, tecnologia e bioeconomia.
Neste contexto, o Brasil pode transformar a COP 30 em um turning point histórico: um momento em que deixou de flertar com o passado fóssil e assumiu a dianteira de uma nova economia do século XXI.
Polo Industrial de Manaus: encruzilhada ou oportunidade?
O Polo Industrial de Manaus (PIM) representa, hoje, uma das maiores alavancas para uma transição energética com justiça social e territorial. No entanto, sua posição estratégica ainda não é plenamente reconhecida nos círculos de decisão sobre clima e desenvolvimento sustentável.
Enquanto outras regiões avançam com projetos emblemáticos de energia limpa, o PIM enfrenta gargalos estruturais, desafios logísticos e a pressão constante por reformas tributárias que ameaçam sua competitividade. Mais do que nunca, é necessário um pacto de Estado — e não apenas de governo — que reconheça o papel da Zona Franca de Manaus na industrialização verde do Brasil.
Investir na reindustrialização sustentável da Amazônia, a partir do PIM, significa conectar a economia nacional com a agenda climática internacional. Significa transformar um enclave industrial em laboratório vivo de inovação, circularidade e baixo carbono. E significa, sobretudo, entender que a floresta em pé só será plenamente valorizada se for capaz de gerar prosperidade e oportunidades em pé de igualdade com outras matrizes econômicas.
A hora da decisão
O Brasil pode chegar a Belém como referência global de coerência, integridade e visão de futuro. Ou pode chegar dividido, pressionado e refém de contradições internas que desautorizam seu discurso.
A escolha está em curso. E cada prioridade anunciada, cada parceria firmada e cada decisão energética tomada nos próximos sete meses será determinante para o tipo de legado que a COP 30 deixará para a Amazônia — e para o planeta.