Por Rildo Silva – presidente do SINAEES – AM e membro da Comissão CIEAM – Centro da Indústria do Estado do Amazonas de ESG.
“A Amazônia nos interpela. Não como vítima, mas como protagonista de uma nova ordem. Seu alerta é claro: “serei depredada” se continuarmos surdos ao seu chamado. Só nos resta escutá-la. E decifrá-la. Antes que seja tarde”
Faltando poucos meses para a COP 30 — Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — que ocorrerá pela primeira vez na Amazônia, mais precisamente em Belém do Pará, é tempo de reconhecer, com humildade e urgência, o desafio simbólico e concreto que essa oportunidade representa para o Brasil e, especialmente, para nós, amazônidas.
A Esfinge Amazônica: o enigma de nosso tempo
A Amazônia é nossa esfinge. Imensa, exuberante, silenciosa, ela não se oferece facilmente a leituras apressadas ou a fórmulas de ocasião. Requer decifração. Requer escuta. Requer presença.
Se a decifrarmos, ela nos revelará caminhos de equilíbrio entre economia, ecologia e equidade. Se insistirmos em ignorá-la, em reduzi-la a palco de extrativismos predatórios — inclusive discursivos — ela poderá ser depredada, não apenas em sua integridade ecológica, mas em seu papel de centro gravitacional de um novo modelo de civilização.
Negacionismo e desinformação: os inimigos do conhecimento
Vivemos um ciclo sombrio de banalização da mentira. O negacionismo não é apenas um erro intelectual: é uma tática de poder. Serve para obscurecer as verdadeiras causas dos nossos impasses e impedir a construção de consensos. O Brasil, infelizmente, tornou-se um dos epicentros dessa guerra de narrativas, onde o conhecimento é desvalorizado, e a floresta, invisibilizada ou caricaturada.
No entanto, como alerta o próprio John Elkington, criador do conceito Triple Bottom Line, “o negacionismo nos prepara para uma crise ainda maior” . Se quisermos evitar o colapso — social, ambiental e econômico — precisamos romper com esse ciclo de ignorância programada.
“No entanto, como alerta o próprio John Elkington, criador do conceito Triple Bottom Line, “o negacionismo nos prepara para uma crise ainda maior” . Se quisermos evitar o colapso — social, ambiental e econômico — precisamos romper com esse ciclo de ignorância programada”
A indústria precisa conhecer a floresta
O setor industrial do Amazonas não pode se furtar ao dever do conhecimento. O Polo Industrial de Manaus, nascido sob a lógica da substituição de importações, precisa hoje ser reconectado às vocações naturais, sociais e científicas da Amazônia. A floresta não é obstáculo à indústria — é sua chance de reinvenção.
Decifrar a Amazônia significa compreender seus povos, sua ciência, sua biodiversidade, seus ritmos. Significa escutar pesquisadores, comunidades, universidades e instituições sérias que há décadas desenvolvem soluções. Significa reconhecer que a floresta em pé não é apenas símbolo: é ativo estratégico.
Da COP 30 ao compromisso contínuo
A COP 30 não será um evento isolado. Ela será julgada por sua capacidade de gerar compromissos concretos, planos de ação, investimentos de longo prazo. Cabe a nós, empresários, técnicos, trabalhadores, lideranças sindicais e institucionais, nos prepararmos para essa travessia com maturidade e ousadia.
O SINAEES-AM, como entidade representativa do setor eletroeletrônico e tecnológico da Zona Franca de Manaus, assume essa convocação. Estamos investindo em conhecimento, promovendo parcerias com instituições de pesquisa, impulsionando programas de inovação verde e participando ativamente dos Fóruns ESG do CIEAM.
Uma nova pedagogia amazônica
Se a desinformação foi usada como arma, nosso antídoto é a pedagogia da verdade, do diálogo e do pertencimento. Precisamos formar uma nova geração de gestores industriais amazônicos que pensem com a floresta, e não apenas sobre ela. Que saibam integrar dados, valores e inovação. Que compreendam que proteger a Amazônia não é um favor ao mundo, mas um ato de inteligência estratégica.
“A Amazônia nos interpela. Não como vítima, mas como protagonista de uma nova ordem. Só nos resta escutá-la. E decifrá-la. Antes que seja tarde”