Apesar de tarifaço dos EUA, modelo manauara resiste, mas
impactos indiretos exigem atenção redobrada.

A Zona Franca de Manaus não deve sofrer abalos diretos significativos, a partir do aperto do ‘tarifaço’ norte-americano para o Brasil. A avaliação é do presidente da FIEAM (Federação das Indústrias do Estado Amazonas), Antonio Silva. Anunciado em 9 de julho, e formalizado em ordem executiva do presidente dos EUA, Donald Trump, desta quarta (30), o aumento de tarifas eleva as alíquotas de importação de 10% para 50%, para diversos produtos brasileiros. Mas, o dirigente destaca que o mercado preferencial da ZFM ainda é o interno, e que suas importações para os Estados Unidos correspondem a 0,15% do faturamento da indústria incentivada.

 A medida passa a valer a partir de 6 de agosto e afeta principalmente as exportações de café (4,7% de participação nas vendas externas brasileiras e US$ 1,9 bilhão); instalações e equipamentos de engenharia civil (3,6% e US$ 1,5 bilhão); carne bovina (2,3% e US$ 944 milhões); madeira (1,8% e US$ 737 milhões); materiais de construção (1,8% e US$ 709 milhões) e açúcares (1,5% e US$ 610 milhões). Petróleo, peças de aeronaves e suco de laranja, por outro lado, foram retirados da lista de sobretaxas, dentro de um universo de 700 itens. O vice-presidente e titular do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Geraldo Alckmin, calcula que 35,9% das exportações brasileiras poderão ser afetadas.

 A avaliação da Fiea m v a i a o encontro do entendimento da Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação), divulgado no dia 10 de julho, que leva em conta a reduzida participação dos EUA na balança comercial amazonense. A ZFM exporta 1,5% de seu faturamento, sendo que menos de 10% dessa fatia têm como destino os EUA. Em 2025, com participação de 8,74% na compra de manufaturados da Zona Franca, o país ficou bem atrás de Alemanha, China, Argentina e Colômbia, que lideram o ranking. A secretaria estadual salienta ainda que o Amazonas importa dos norte-americanos quase 20 vezes mais do que exporta.

 Em contraste, texto veiculado na mesma oportunidade pela Secom informava que a Sefaz (Secretaria de Estado da Fazenda) via riscos indiretos, dependendo da amplitude e duração do ‘tarifaço’. O mais evidente está no possível encarecimento do câmbio e seus desdobramentos no valor dos insumos importados, custos de produção e competividade da ZFM. Um dólar ainda mais forte também tenderia a inflar os preços da economia nacional, acendendo o sinal amarelo para o aumento dos juros no Copom. Eventuais impactos na geração de empregos no Centro-Sul, por outro lado, poderiam comprometer a demanda das famílias brasileiras por bens de consumo.

“Efeito marginal”

Em vídeo distribuído por sua assessoria de imprensa, o presidente da Fieam, Antonio Silva, se embasou nos números da Sedecti para tranquilizar a indústria “Vamos esclarecer de uma vez por toda que o aumento de tarifas que foi anunciado dia 9 de julho de 2025, pelo presidente Donald Trump, não deverá causar efeitos significativos sobre o nosso poder de desenvolvimento. Apenas 0,15% do faturamento da Zona Franca estaria sujeito às novas tarifas. Trata-se, portanto, de um efeito marginal. A maior parte da nossa produção destina-se ao mercado interno brasileiro, que reduz significativamente o impacto da medida anunciada”, reforçou.

O dirigente lembra ainda que a balança comercial entre a Zona Franca e os Estados Unidos é “amplamente favorável” aos norte-americanos. Dados do Mdic informam que, em 2024, o Amazonas importou US$ 1,40 bilhão e exportou US$ 100 milhões para os Estados Unidos. Nos seis primeiros meses deste ano, a soma das aquisições do Estado no mercado norte-americano foi de US$ 646 milhões, contra US$ 35 milhões de vendas externas endereçadas ao mesmo destino. Entre 2022 e 2024, as importações apresentaram decréscimo de 20%, enquanto as exportações cresceram 21%.

“Nós importamos deles quase 20 vezes mais do que exportamos. Ou seja, os Estados Unidos mantêm um superávit expressivo no comércio bilateral com a Zona Franca de Manaus. Isso significa que uma guerra comercial tende a ser mais desfavorável a eles, relativamente. Ainda mais [quando comparado a] qualquer efeito negativo à nossa economia. Em resumo, o ambiente de tarifas tem baixo potencial de impacto real sobre a economia da Zona Franca de Manaus, como muito bem disse o secretário [de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação], Serafim Corrêa”, afiançou.

“Praticamente nulo”

Na oportunidade do anúncio do ‘tarifaço’, outras lideranças da ZFM saíram em campo para minimizar possíveis efeitos significativos diretos sobre a ZFM. “O aumento de tarifas tem consequências para o país como um todo. É uma questão que vem sendo tratada com a devida cautela pelo governo federal, com posturas firmes de uma nação independente e soberana. No entanto, quando falamos da Zona Franca de Manaus, o impacto é praticamente nulo. Neste momento, seguimos acompanhando os desdobramentos”, ponderou o titular da Sedecti, Serafim Corrêa, reforçando o compromisso de eventuais medidas de mitigação, caso necessárias.

Em vídeo divulgado no mesmo dia, pela assessoria de imprensa da Suframa, o titular da autarquia, Bosco Saraiva, foi na mesma direção. “Nosso posicionamento é o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já deixou muito clara a posição do governo brasileiro. Do ponto de vista das exportações do PIM, esse volume é quase que insignificante para o faturamento, que temos divulgado regularmente. Evidentemente, que a cautela e a prudência deve ser o Norte do nosso comportamento. Assim será aqui, na Suframa, porque acreditamos fortemente na capacidade de negociação do nosso governo e do nosso ministro do Mdic e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin”, finalizou

Fonte: Jornal do Commercio

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